PortuguêsPsicologia Clínica

A Perturbação de Personalidade Borderline

A Perturbação de Personalidade Borderline (PPB) é caraterizada por um padrão de instabilidade nos relacionamentos interpessoais, na autoimagem, nos afetos e por uma grande impulsividade. Normalmente, os seus sintomas começam no início da idade adulta.

De acordo com o DSM-V (2014), uma pessoa precisa de apresentar pelo menos cinco dos nove critérios de diagnóstico que a seguir se apresentam, para ser diagnosticada com PPB:

  1. Esforços frenéticos para evitar o abandono real ou imaginário.
  2. Um padrão de relações interpessoais instáveis e intensas caracterizadas pela alternância entre dois extremos: idealização e desvalorização.
  3. Perturbação da identidade: autoimagem ou sentimento de si próprio marcados e persistentemente instáveis.
  4. Impulsividade em pelo menos duas áreas potencialmente autolesivas (por exemplo, gastos, sexo, abuso de substâncias, condução imprudente, ingestão alimentar impulsiva).
  5. Comportamentos, gestos ou ameaças recorrentes de suicídio ou comportamento automutilante.
  6. Instabilidade afetiva devida a reativada de humor marcada (por exemplo, episódios intensos de disforia, irritabilidade ou ansiedade, em regra durando poucas horas e raramente mais do que alguns dias).
  7. Sentimentos crónicos de vazio.
  8. Raiva intensa e inapropriada ou dificuldades em controlar a raiva (por exemplo demonstrações frequentes de temperamento, raiva constante, lutas físicas recorrentes). 
  9. Ideação paranoide transitória, reativa ao stress ou sintomas dissociativos graves.

As características mais distintivas dos pacientes com PPB são a sua hipersensibilidade à rejeição e a sua preocupação com o abandono esperado. Os pacientes com esta perturbação sentem que as suas vidas não valem a pena viver, a menos que estejam ligados a alguém que acreditem realmente "preocupar-se". No entanto, a sua perceção de "preocupar-se" envolve, normalmente, níveis irrealistas de disponibilidade e de validação. Dentro de tais relações, uma idealização inicial pode mudar drasticamente para desvalorização quando a rejeição é percebida. Para além desta separação externa, as pessoas com PPB têm também uma divisão interna, ou seja, existe uma tendência a considerarem-se uma boa pessoa que foi maltratada (caso em que predomina a raiva) e uma pessoa má cuja vida não tem valor (caso em que pode ocorrer comportamento de mutilação ou mesmo suicida). Esta divisão é também evidente no pensamento dicotómico a preto e branco ou tudo ou nada.

A PPB é habitualmente diagnosticada em jovens adultos, mas alguns sinais começam a manifestar-se na adolescência. Os primeiros sinais incluem problemas com a imagem, vergonha, a procura de relações exclusivas, extrema sensibilidade à rejeição e problemas comportamentais, incluindo comportamentos de mutilação. Embora estes sinais também possam ocorrer em adolescentes sem PPB, a sua presença é preditiva de incapacidade social a longo prazo e um aumento do risco de PPB.

O principal tratamento para a PPB é a psicoterapia, com uma duração média de 2 a 3 horas por semana durante 1 ou mais anos, efetuada por psiquiatras ou psicólogos que tenham recebido formação específica em conjunto com supervisão contínua. As primeiras sessões devem incluir uma discussão sobre o diagnóstico, a validação e reconhecimento das preocupações que os pacientes manifestem sobre o diagnóstico e o estabelecimento de objetivos de mudança que sejam de curto prazo e viáveis. Alguns exemplos de tais objetivos são começar a tomar medidas para se sentirem melhor (isto é, deixar uma situação de grande tensão ou tomar um medicamento), pedir ajuda antes de perder o controlo, melhorar os horários de sono, fazer exercício, frequentar um grupo de ajuda (por exemplo, Alcoólicos Anónimos), e voltar a falar com amigos ou familiares de quem se tenha afastado.

Caso queira conhecer melhor este tema, aconselhamos a leitura dos nossos livros Manual do bom manejo clínico para transtorno de personalidade borderline e Como lidar com o transtorno de personalidade limítrofe - Borderline.

Referências Bibliográficas

  • American Psychological Association. (2014). DSM 5 - Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais, Climepsi Editores.
  • Gunderson, J. G. (2011). Borderline personality disorder. New England Journal of Medicine, 364(21), 2037-2042.
  • Leichsenring, F., Leibing, E., Kruse, J., New, A. S., & Leweke, F. (2011). Borderline personality disorder. The Lancet, 377(9759), 74-84.

Psychologist - Sales, Marketing & Training

Beatriz Lucas

Manual do bom manejo clínico para transtorno de personalidade borderline
Manual do bom manejo clínico para transtorno de personalidade borderline por J. G. Gunderson, Paul S. Links

 

 

 

 

Como lidar com o transtorno de personalidade limítrofe - Borderline
Como lidar com o transtorno de personalidade limítrofe - Borderline

Guia prático para familiares e pacientes

por Martin Bohus, Markus Reicherzer