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ADOS-2 – um contributo determinante para o diagnóstico da Perturbação do Espectro do Autismo

De acordo com o DSM-5, a perturbação do espectro do autismo (PEA) faz parte das perturbações do neurodesenvolvimento, que se manifestam durante o crescimento da criança. A presença de PEA caracteriza-se pela existência de défices persistentes na comunicação social e interação social, assim como de padrões restritos e repetitivos de comportamentos, interesses ou atividades.

São vários os estudos que se têm debruçado sobre a PEA. A nível europeu gostaríamos de destacar o projeto Autism Spectrum Disorders in the European Union (ASDEU). Trata-se de um projeto criado pela Comissão Europeia, que tem dois grandes objetivos: (1) investigar a etiologia e a prevalência da PEA na população europeia; (2) promover o desenvolvimento de planos de intervenção junto da população com diagnóstico de PEA. Este projeto, identificado como Autism-Europe1, é responsável pela formulação de recomendações políticas, destinadas aos decisores europeus, no domínio da saúde e da inclusão social. São 19 as instituições europeias que fazem parte deste grupo de trabalho e, no caso de Portugal, coube ao Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (mais propriamente ao seu departamento de Promoção da Saúde e Prevenção de Doenças Não Transmissíveis) integrá-lo.

Nos últimos 30 anos, o número de casos de autismo tem vindo a aumentar progressivamente. São três as possíveis causas: (1) a consciencialização sobre o tema (que abrange não só os profissionais de saúde e os cuidadores, mas também a população em geral); (2) as alterações nos critérios de diagnóstico; e (3) a importância atribuída à avaliação do desenvolvimento infantil. Apesar das estimativas variarem (devido à alteração dos critérios de diagnóstico e à heterogeneidade da própria perturbação) pensa-se que na Europa a sua prevalência varie entre 1% e 1.5%, com um claro enviesamento no que diz respeito à variável sexo (nas crianças existe um rácio de 3-4 rapazes por cada rapariga). Sobre a prevalência em Portugal, são 2 os estudos que merecem o nosso destaque: “Epidemiologia do autismo em Portugal: um estudo de prevalência da perturbação do espectro do autismo e de caracterização de uma amostra populacional de idade” 2 de Guiomar Gonçalves de Oliveira (2005) e “Prevalência da perturbação do espectro do autismo na região Centro de Portugal: um estudo no âmbito do projeto ASDEU”3 publicado em 2020 no Boletim Epidemiológico Observações do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge. No estudo publicado em 2005 as taxas de prevalência para Portugal continental variaram entre 0.24% (Algarve) e 1.25% (Centro), correspondendo o valor médio a 0.92%. No caso do estudo publicado em 2020 que incidiu, apenas, na região Centro, a prevalência foi de 0.50%. Este resultado é comparável às estimativas encontradas em vários países europeus, sendo expectável encontrar valores em Portugal que não se afastam significativamente deste valor. Quanto ao decréscimo relativamente ao estudo de 2005, este poderá dever-se a alterações nos critérios de diagnóstico, que foram revistos para o DSM-5.

Todas as crianças e jovens com suspeita de autismo devem ser submetidos a uma avaliação minuciosa, multidisciplinar, com recolha de informação junto de diferentes fontes e com recurso a instrumentos/medidas complementares. Entre os instrumentos indicados para a avaliação do espectro do autismo encontra-se a ADOS-2 (Escala de Observação para o Diagnóstico do Autismo – 2ª edição). 

Internacionalmente considerada como a medida standard para o diagnóstico do autismo, a publicação em Portugal da tradução/adaptação da ADOS-2 contribui para a objetividade do diagnóstico, auxiliando os profissionais na identificação das necessidades destas crianças e jovens e na construção de planos de intervenção adequados a essas necessidades.  

A ADOS-2 adaptada para a população portuguesa

ADOS-2 ADOS-2 por Michael Rutter, Catherine Lord, Pamela C. DiLavore, Katherine Gotham, Somer L. Bishop, Susan Risi, Rhiannon J. Luyster, Whitney Guthrie

 

 

 

 

1www.autismeurope.org

2Oliveira, G. (2005). Epidemiologia do autismo em Portugal: Um estudo de prevalência da perturbação do espectro do autismo e de caracterização de uma amostra populacional de idade escolar. Coimbra: Universidade de Coimbra.

3Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge. Boletim Epidemiológico Observações. 2020 maio-agosto;9(27):47-51.

Research & Development Manager

Carla Ferreira