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SGS II: o papel fundamental do rastreio na primeira infância

A primeira infância, período que vai do nascimento até os 6 anos de idade, é considerada uma janela de oportunidades crucial para a saúde, a aprendizagem, o desenvolvimento e o bem-estar social e emocional das crianças. Estudos científicos têm demonstrado que as primeiras experiências vividas na infância, bem como intervenções e serviços de qualidade oferecidos neste período, estabelecem a base do desenvolvimento. Instrumentos de rastreio, como a Escala de Avaliação das Competências no Desenvolvimento Infantil (SGS II), que aqui abordaremos, têm-se revelado ferramentas essenciais e muito práticas.

O desenvolvimento neurológico normal tende a ocorrer de forma razoavelmente padronizada e a um ritmo equivalente (entre membros da mesma espécie) [veja a nossa tabela dos níveis desenvolvimentais dos 0 aos 6 anos]. Pequenos desvios a este padrão são bastante frequentes; desvios mais significativos ocorrem provavelmente com maior frequência do que seria de esperar. Todavia, se a causa é transitória e moderada, a tendência é para que o processo de desenvolvimento continue de acordo com o padrão normal. 

Existe uma grande plasticidade no desenvolvimento neurológico e cerebral na infância. Neste sentido, as anomalias e os desvios temporários, identificados precocemente, acabam por ser compensados e não costumam originar qualquer tipo de patologia clínica.

Assim, a avaliação, o rastreio ou o acompanhamento do desenvolvimento infantil não devem ser acontecimentos isolados. Pelo contrário, devem fazer parte de um processo mais vasto de gestão e de promoção da saúde da criança.

A Escala de Avaliação das Competências no Desenvolvimento Infantil (SGS II) é um instrumento de rastreio do desenvolvimento que pode ser utilizado em qualquer altura desde o nascimento, até aos 5 anos de idade. A utilização da SGS II permite obter rapidamente uma visão geral do estado de desenvolvimento da criança, incluindo áreas mais desenvolvidas e áreas onde, potencialmente, poderá existir um atraso ou que poderão necessitar de algum tipo de estimulação de modo a desenvolverem-se de acordo com os padrões ditos normais. 

Baseada nas sequências do STYCAR de Mary Sheridan, o nível de desenvolvimento é avaliado em 9 áreas de competências, organizadas em 6 domínios. Pode ainda ser extraído um resultado relativamente à área cognitiva, a partir de itens relevantes.

É um instrumento de aplicação relativamente rápida, que recorre a inúmeras atividades lúdicas com brinquedos apelativos (p.e., blocos, encaixes, boneca, pinos, etc.) que estimulam a criança a participar facilmente na avaliação. 

O rastreio do desenvolvimento infantil com a SGS II garante que todas as crianças são avaliadas de forma consistente e que apenas as que realmente necessitam são reencaminhadas para uma avaliação aprofundada. 

A segunda edição da adaptação portuguesa conta com itens revistos, materiais atualizados e estudo dos indicadores de fiabilidade e validade efetuados com uma amostra de crianças portuguesas. Estes estudos demonstram não só a utilidade da prova, como também a confiança que se pode ter na utilização das tabelas de normas inglesas.

Vantagens da SGS II 

 

Simplicidade: O Caderno de Registo pode ser utilizado para avaliar a mesma criança em 4 momentos diferentes, fornecendo, desta forma, uma visão rápida e de fácil compreensão sobre o seu progresso ao longo do tempo. A representação gráfica dos resultados na Folha de Perfil facilita a comunicação com os pais (ou outros cuidadores) e com outros profissionais (em caso de encaminhamento), permitindo visualizar quais as forças da criança e áreas em que, eventualmente, poderão existir atrasos. 

 

Utilização Universal: A SGS II pode ser utilizada como ferramenta universal de rastreio do desenvolvimento, permitindo que todas as crianças possam ser avaliadas de forma consistente e rápida, sem deixar passar aspetos que, por vezes, podem passar despercebidos numa consulta de rotina. 

 

Validade e fiabilidade: Os estudos de validade conduzidos com a versão original inglesa da SGS II mostram que se trata de um instrumento que cumpre plenamente os objetivos a que se propõe. Adicionalmente, os estudos conduzidos com a tradução portuguesa da SGS II revelam índices de fiabilidade elevados e que os dados normativos ingleses podem ser utilizados com segurança na avaliação de crianças portuguesas.

SGS II SGS II: Escala de Avaliação das Competências no Desenvolvimento Infantil por M. Bellman, S. Lingam, A. Aukett

 

 

 

 

Bibliografia:

  • Hogrefe (2020). Manual Técnico da Escala de Avaliação das Competências no Desenvolvimento Infantil;

  • Hogrefe (2020). Manual do Utilizador da Escala de Avaliação das Competências no Desenvolvimento Infantil;

  • www.unicef.pt

Psychologist – Training & Marketing

Ana Cartaxo

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