Terapia do Esquema: Uma Jornada Emocional para Além dos Sintomas
A Terapia do Esquema (TE), desenvolvida por Jeffrey Young, consiste numa abordagem psicoterapêutica integrativa, especialmente eficaz para casos de elevada complexidade clínica, como perturbações da personalidade, depressão, ansiedade social e perturbações alimentares. Baseia-se na premissa de que grande parte do sofrimento emocional tem origem em padrões estruturais formados na infância — os chamados Esquemas Iniciais Desadaptativos (EIDs).
Combinando elementos da Terapia Cognitivo-Comportamental com teorias do apego e da vinculação, técnicas experienciais e trabalho relacional profundo, a TE propõe não apenas aliviar sintomas, mas intervir nas raízes emocionais do sofrimento, promovendo reestruturação cognitiva e comportamental.
Esquemas Iniciais Desadaptativos: estruturas precoces de sofrimento emocional
Os EIDs são padrões amplos, estáveis e disfuncionais, que influenciam profundamente a perceção de si, dos outros e das experiências. São formados na infância e na adolescência, em resposta à frustração persistente de necessidades emocionais universais — como vínculo seguro, autonomia, liberdade de expressão, espontaneidade e limites realistas.
Estes esquemas funcionam como “verdades emocionais” internalizadas e sentidas como absolutas. São acompanhados por uma intensa carga afetiva e tornam-se filtros através dos quais o indivíduo interpreta o mundo e orienta o seu comportamento. Mesmo quando geram sofrimento, mantêm-se ativos por via de mecanismos de autorreforço e por estilos de coping aprendidos.
Domínios Esquemáticos: áreas nucleares de vulnerabilidade
A TE organiza os EIDs em cinco grandes domínios esquemáticos, que correspondem a áreas centrais de necessidades emocionais universais não satisfeitas na infância. Esses domínios funcionam como categorias estruturantes do sofrimento emocional e ajudam na formulação clínica e na priorização terapêutica.
Cada domínio reflete um conjunto de experiências precoces adversas e está associado a padrões recorrentes de pensamento, emoção e comportamento. São eles:
- Desconexão e rejeição
- Autonomia e desempenho prejudicados
- Limites prejudicados
- Orientação para o outro
- Supervigilância e inibição
A compreensão dos domínios esquemáticos permite identificar temas emocionais centrais na vida do paciente e compreender como múltiplos EIDs se articulam para manter os modos desadaptativos. Este mapeamento fornece uma bússola terapêutica que orienta intervenções profundas e personalizadas.
Modos esquemáticos: estados internos reativos
Na prática clínica, os esquemas raramente se apresentam isoladamente. Manifestam-se através de modos esquemáticos— estados emocionais e comportamentais ativados em resposta a gatilhos internos ou externos. Estes modos representam diferentes partes do self, incluindo:
Modos
de
criança
Modos de
coping
desadaptativos
Modos
pais
disfuncionais
Modo
adulto
saudável
O trabalho terapêutico centra-se em identificar, compreender e modificar esses modos, desenvolvendo maior consciência interna e capacidade de autorregulação.
Estilos de coping: estratégias protetoras desadaptativas
Em resposta à dor associada aos EIDs, o indivíduo desenvolve estilos de coping que têm por objetivo proteger, mas acabam por perpetuar o sofrimento. São geralmente agrupados em três categorias:
- Resignação ao esquema
- Evitamento
- Hipercompensação
Identificar e desconstruir estes mecanismos é um passo essencial para permitir o contacto com as necessidades emocionais genuínas e promover mudanças reais no funcionamento interpessoal e afetivo.
A relação terapêutica como agente transformador
A TE atribui grande importância à relação terapêutica, não apenas como contexto seguro, mas como instrumento ativo de mudança. O conceito de reparentalização limitada implica que o terapeuta assuma temporariamente uma função responsiva, estruturante e empática, oferecendo ao paciente experiências emocionais corretivas no vínculo.
Este modelo relacional é especialmente relevante em pacientes com perturbações de personalidade, histórico de negligência emocional ou dificuldades em confiar no outro. A relação torna-se espaço de aprendizagem emocional, promovendo a reestruturação dos modos internos e ativando e co-construindo o modo adulto saudável.
Aplicações clínicas em diferentes perturbações e settings terapêuticos
A eficácia da TE tem sido demonstrada em múltiplas perturbações:
- Perturbação de personalidade borderline, narcisista e do cluster C
- Perturbação de ansiedade social
- Depressão
- Perturbação alimentar
- Consumo de substâncias
E em múltiplas populações, tais como adultos, crianças, adolescentes, casais, pais e em terapia de grupo.
Leitura clínica essencial
O livro Terapia do Esquema, oferece uma apresentação aprofundada e aplicada da abordagem, com fundamentação teórica rigorosa, exemplos práticos, mapeamento de modos, ferramentas terapêuticas e estratégias específicas para diferentes populações, bem como recursos técnicos e clínicos para o trabalho com EIDs, estilos de coping e modos. Uma obra de referência para quem deseja compreender — e transformar — os padrões emocionais profundos que sustentam o sofrimento psicológico.
A Terapia do Esquema (TE) é uma abordagem de psicoterapia integrativa que se baseia nos conceitos e métodos da teoria cognitiva de Beck, Teoria do Apego de Bowlby e de outras linhas de psicoterapia.
Psychologist - Trainee
Bárbara Amorim Nascimento
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